Selva de Pedra
Documentário produzido pela Central Única das Favelas do Ceará trata da disseminação do consumo do crack pela capital.
Demora apenas cinco minutos para ``bater``. E a intensidade da euforia obtida parece contribuir para o potencial de dependência da droga, advindo da necessidade de reutilização da substância, que surge assim que os efeitos dela começam a se dissipar — entre 10 a 20 minutos após a inalação da fumaça. Assim, o ciclo (obviamente, vicioso) se forma, baseado na busca compulsiva pela nova administração, a chamada ``paulada``. ``Fissurados``, os usuários perdem muito da capacidade de se controlar, comumente incorrendo em atitudes criminosas para satisfazer o vício. Eis, em uma simples introdução, o mundo do crack, droga que contem até 75% de cocaína pura e é considerada por especialistas a mais eficaz em causar dependência.
Impulsionada pela ampla difusão do seu uso e pelas consequentes implicações sociais que ele acarreta, a Central Única das Favelas do Ceará (Cufa-CE) lança hoje o documentário Selva de Pedra & A Fortaleza Noiada, na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Dirigido por Edmar Júnior e Preto Zezé, também coordenador geral da Cufa-Ce, o filme mostra todo o entorno da disseminação dessa droga considerada ``democrática``, por seu alcance indistinto entre as camadas mais pobres e a elite da população, e que vem se alastrando de forma crescente, deixando um grande rastro de destruição. Além dos surtos de violência, são associados ao uso de crack a expansão de casos de aids e DSTs, de hepatite, tuberculose, bem como de prostituição, de quebra de vínculos conjugais, familiares, comunitários e sociais.
No indivíduo que faz uso dele, a utilização por tempo prolongado leva a perda de peso significativa e, embora os primeiros episódios de consumo sejam marcados por uma sensação de bem-estar, a continuidade do consumo resulta em ansiedade, hostilidade e depressão. Muitas vezes, produz também ilusões perceptivas (visuais e auditivas) e, finalmente, a psicose cocaínica, caracterizada por extrema hipervigilância, delírios paranoides e alucinações.
No âmbito social, é sabido que as diversas readministrações podem acarretar períodos de consumo de horas e até dias, geralmente até o esgotamento do suprimento da droga. Nessas condições, têm início os casos criminosos, de roubos com o intuito de se conseguir dinheiro para comprar mais droga, em certa medida responsáveis pelo aumento da violência na cidade, e de prostituição. Dessa forma, o crack se constitui numa mazela social que reproduz outras mazelas. E é a partir dessa perspectiva que Preto Zezé revela ter pensado o documentário.
Segundo ele, o conceito de ``danos sociais do crack`` foi o foco do interesse de seu estudo, que surgiu inicialmente da intenção dele de gravar um videoclipe de rap. Tudo mudou, no entanto, quando ele visitou o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Barra do Ceará. ``Conheci lá a assistente social Cíntia Studart, que atende usuários, e nós conversamos sobre os impactos que a droga causa na família deles e na segurança pública, devido à -fissura- que os impulsiona a cometer assaltos. Aí percebi que tinha que fazer algo mais extenso``, afirma o diretor, que diz ter se surpreendido ao não encontrar dados sobre o problema nos órgãos públicos.
O coordenador geral da Cufa no Ceará lembra ainda a contribuição do major Plauto Ferreira, especialista no assunto e autor do livro Segurança e Drogadição. ``Utilizei-me desses olhares diferentes, o da segurança pública e o da clínica, e os somei à minha visão``, explica. Preto Zezé, contudo, diz ter fugido da noção do viciado ou como ``maluco, doente`` ou como bandido. Ele, então, resolveu dar voz aos próprios usuários, num esforço de desmistificação semelhante ao realizado pelos produtores do celebrado Falcão - Meninos do Tráfico, de Celso Athayde e MV Bill, que, inclusive, participa do lançamento hoje, juntamente com o ministro da Justiça Tarso Genro.
E-Mais
> Além do filme Selva de Pedra & A Fortaleza Noiada, o estudo da Cufa sobre a vida dos viciados em crack rendeu também um CD de rap e um livro. Enquanto este tem lançamento previsto para março de 2010, o registro musical foi lançado dia 20 de junho, na final cearense do Festival RPB - Rap Popular Brasileiro, no Condomínio Cultural da Cufa Ceará (Teatro da Boca Rica / Praia de Iracema). Ambos levam o mesmo nome do documentário.
> Durante a solenidade de hoje, será também lançado o portal Rede Aliança Social Contra o Crack (www.aliancasocialcontraocrack.org.br), uma iniciativa que busca, segundo Preto Zezé, informar a população sobre o problema e articular as ações que são empreendidas para seu combate, além de uma pesquisa com os números do crack em Fortaleza.
SERVIÇO
SELVA DE PEDRA - A FORTALEZA NOIADA - Lançamento do documentário de Preto Zezé e Edmar Jr. Hoje, às 17h, no Plenário 13 de Maio da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (av. Desembargador Moreira, 2807 - Dionísio Torres) . Entrada franca. Outras informações: (85) 3227 2839, 8812 5792 oucontato@cufaceara.org.br.
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